Ricardo Azevedo
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Nasceu em São Paulo, 1949.
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Publicou mais de 100 livros infantis, muitos publicados no exterior, em países como Alemanha e Holanda. Muitos de seus livros também receberam importantes prêmios do meio literário e artístico.
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Formado em Comunicação Visual pela FAAP, é mestre em Letras e doutor em Teoria Literária pela USP.
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É desenhista e ilustrador da maioria de seus livros.
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É apaixonado pela cultura popular, frequentemente exposta em sua obra.
Ninguém Sabe O Que É Um Poema
"Ninguém Sabe O Que É Um Poema" (1988) é um livro voltado para o público juvenil, com poemas que diferem bastante entre si, tanto em relação à linguagem quanto à estrutura poética. Há poemas com rimas, métrica, livres e bracos, etc.
Para ilustrar, retiramos dois poemas:
"Só Com Meu Umbigo"
Esse poema apresenta métrica regular, ou seja, versos com sete sílabas poéticas (redondilha maior), bem como rimas cruzadas (A/B, A/B). Ainda sobre a estrutura do poema, podemos ver a repetição do último verso em pelo menos 11 estrofes. Já a temática diz respeito ao universo (pré-)adolescente: a supervalorização de seus próprios problemas e questões.
"Poema Mecânico"
A repetição da conjunção "que" e a ausência da pontuação conferem circularidade ao poema, que sugere o movimento de uma engrenagem.
A ilustração lembra a de um caderno quadriculado, usado no desenho técnico, mecânico. Contudo, há a presença de uma forma poética, a borboleta. O mesmo ocorre no texto, que apresenta versos que rementem ao plano dos sentimentos.
A Casa Do Meu Avô
O livro “A casa do meu avô”, de Ricardo Azevedo, com ilustrações do próprio autor, traz a delicadeza dos sentimentos da infância, mostrando a ida de um menino à casa do avô. Ele faz uma descrição do ambiente, que tem um jardim florido, cultivado por um jardineiro especial, um cachorro furioso chamado Dengoso, um tio que é tido como “tantã”, uma maravilhosa cozinheira De nome Geralda e uma vizinha, que é a representação do primeiro amor. São temas que fazem parte do cotidiano de todos nós, e apresentam uma linguagem simples, e envolvente que nos encanta. A simplicidade da narrativa que conta as aventuras do garoto na casa do avô lembra o gênero épico, à semelhança dos livros de Bartolomeu de Campos Queiróz, e nos faz evocar emoções e sensações que ficaram no passado, no caso dos adultos. O livro é repleto de elementos concretos e abstratos, rimas e ritmos leves, suaves, com linguagem clara e precisa.
Existem um leque variados de personagens, que nos traz um pouco da diversidade humana existente no mundo, o que nos faz refletir sobre as diferenças individuais. Nesse sentido, percebe-se um cuidado do autor, que mostra mas não julga, pelo contrário, de uma certa maneira justifica. O jardineiro, seu Júlio, tem uma espécie de dedo mágico, que faz florir o jardim, repleto de plantas e frutas , que planta, além de tudo, a esperança no coração do menino. A cozinheira, Geralda é a fada da cozinha. Quando o eu poético descreve seus quitutes, evoca sensações gustativas, e faz despertar nossa memória afetiva e os doces sabores da infância. O personagem de tio Nená ilustra totalmente essa afirmação. Tido como um sujeito “tantã”, amalucado, por todos, na visão do menino isso não tem importância, porque o tio é apenas ” uma pessoa” . Tio Nená tem atitudes que fogem ao considerado “normal”, com um comportamento livre, sem padrões nem regras rígidas, e através desse personagem o autor deixa claro que existem uma grande diversidade de visões de mundo. Marca de Azevedo, a não submissão ao moralismo fica claro, porque a história não tem um tom pedagógico nem propõe padrões comportamentais, prezando pela aceitação das diferenças, o amor e a amizade, e mostrando uma nova forma de perceber as coisas cotidianas.